Por: Márcio Januário
O labirinto ficava cada vez mais sem fim. O velho sabia o silêncio profundo e olhava tudo perfurando a alma. Estava hipnotizado seu coração de criança. Todos evitavam aquele ser incômodo. Os meninos tacavam pedras, gostavam de provocá-lo gritando: Dois dois! Palavras incompreensíveis rasgavam seu corpo e era um mar em fúria,gritando,urrando. Os meninos fugiam felizes.
Tinham acabado de se mudar para a casa da praia, seus pais mandaram ficar longe do velho maluco, que escrevia na areia. A mãe ficava na cama o dia todo e nunca abria as janelas,o pai trabalhava, bebia, viajava e falava no telefone. Ela tinha a liberdade do mar, as músicas invisíveis, as palavras na areia e uma imensidão de mundos de outros mundos.
Quando teve coragem se aproximou do velho e leu:
MENINALOURATRISTETEMMEDOETUDOÉ1+1+1+LÊ-RUMPI
RUN-KETUBUMBOFUNKBATEBOLABREUSILENCIOTUDOUM+1+1+
PADREPATROAPASTORPASTAPAPAPAPAPOBREPAGA+1+1+1…
As mensagens, que o mar apagava os uniam. Logo começaram os comentários, sobre a menina rica e o velho louco da areia. Estavam sempre juntos, já podiam se comunicar pelas cores e sons do mar batendo na areia, nas pedras, no vento…
Todo mundo veio correndo com o barulho da sirene. Todos queriam ver o espetáculo. Mais uma vez os enfermeiros correndo. A briga, os gritos, os espasmos, a injeção, prisão, dor, solidão… Quando o carro vermelho e branco começou a se distanciar, as cores começaram a se misturar, as luzes,a ambulância levitando, mudando de cor, a luz da sirene era de todas as cores, subia voando cada vez mais rápido. Era lindo. Todos viram a ambulância indo para o céu, mas fingiram que nada estava acontecendo. Até o anormal é aceito em nome da saúde do senso comum. Ela escrevia, reescrevia, trescrevia:
MARCORAÇÃOBATENDOLÊ-
RUMPIRUNBUMBOCAIXASURDOTUDO1+1SIRENE+1+1+1
ÉUMSÃOCOSMEDAMIÃODOUM+1+1+
ELAELELAELETUDOUM+1+1
BATENDOPANCADÃOTUDOBRANCONEGRO
ASFALTOCHÃODEBARROMUNDOINTEIROÉTUDO
1+1+1+PRANTONEGROANJOPRETOVELHORFEUGRIÔTUDO1+70
E os médicos ainda diziam que ela era: ESQUIZOFRÊNICA PARANÓIDE.